terça-feira, 3 de julho de 2012

Autossabotagem



Meu jogo de vida é o jogo de azar – daqueles que o azar impera e reduz gradativamente a esperança a pó. Cada dia que passa, fico mais mutilado. Não importa o que dizem as razões: não tem a menor razão o vazio em meu peito.

domingo, 17 de junho de 2012

Cestrum

No fim do dia, logo após o anoitecer, ocasionalmente sinto o cheiro do passado. Quando era bem pequeno, perguntei o que era para minha mãe, e ela disse que o cheiro era de flor. Não sei bem porque o passado cheira assim - mas desconfio que não seja uma memória. Talvez uma flor tenha mesmo o cheiro do tempo, o cheiro do que já passou, porque desde pequeno me lembro de sentir essa nostalgia aromática.  Procurei saber e descobri que a tal flor desabrocha no verão e na primavera. Ontem eu senti o cheiro de novo, em meados do inverno. Procurei a planta por todos os lados, em volta de minha casa, e não encontrei nada, e me perguntei se não era o próprio passado que viera me fazer uma visita. Às vezes tem medo que me esqueça.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

La Fin

Rico ficou parado assistindo enquanto o universo todo ia se desmanchando aos poucos, galáxias virando fogos de artifício e toda aquela poeira cósmica brilhante e colorida deixando a rua 15 uma verdadeira imundice e ficando presa no seu cabelo despenteado. Era o fim do universo, só que ninguém esperava que o fim do universo fosse tão pouco trágico e sim como um espetáculo crescente em que o clímax fosse simplesmente a não existência de todas as coisas.
Não lembro bem, mas acho que àquela hora estavam todos dormindo, só Rico que assistia tudo acontecer, do alto da colina que ficava atrás da casa do seu Fernando. Era uma pena, pois era apenas mais uma sensação que não poderia explicar pra ninguém, mas dessa vez não era por falta de palavras como antes, e sim por falta de tudo que se pode faltar. Restavam só mais uns três segundos. Acho que rolou um sorriso.